Era uma tarde comum de navegação,
dessas em que o dedo desliza no celular mais por tédio do que por vontade. Entre vídeos de gatinhos, receitas milagrosas e dancinhas virais, uma manchete surgiu abrupta: “Ministros do STF formam maioria para censurar previamente conteúdos nas redes sociais”.
A notícia, que em outros tempos causaria espanto ou revolta, encontrou uma população anestesiada por notificações. Poucos leram além do título, e os que leram não sabiam ao certo o que sentir. Afinal, quem decide o que pode ou não ser dito? E o que há de tão perigoso nas palavras que precisa ser calado antes mesmo de ser ouvido?
Na esquina do pensamento democrático, a liberdade de expressão, velha senhora cansada, tossia em silêncio. Já fora protagonista de tantos discursos inflamados, agora era apenas uma figurante desconfortável num cenário onde a verdade se veste com o traje de quem tem a caneta mais poderosa — e a toga mais imponente.
Não se trata de defender o ódio ou a mentira. Ninguém quer viver num mundo onde a calúnia navegue livre, como se fosse brisa leve. Mas há algo de profundamente inquietante na ideia de que o que você pensa pode ser impedido de existir antes mesmo de ser pronunciado. É como construir muros ao redor do pensamento — e depois pintar flores nos muros, fingindo que é jardim.
Nas redes sociais, ironicamente, o silêncio começou a gritar. Publicações sumiam. Páginas murchavam. Os algoritmos, antes caóticos, agora pareciam marchar sob ordens bem definidas. A praça pública digital, que um dia foi terra de todos, começava a se parecer com um auditório fechado — onde só entra quem tem credencial aprovada.
E a pergunta ecoava, cada vez mais abafada: quem vigia os vigias?
Em algum lugar entre o medo do caos e o desejo de controle, nasceu a censura disfarçada de proteção. Talvez seja isso que o tempo nos ensinará: que a liberdade não morre com gritos, mas com o silêncio consentido. E quando se dá adeus à liberdade em nome da segurança, muitas vezes se perde ambas.
Enquanto isso, seguimos deslizando o dedo. Quem sabe amanhã o algoritmo nos permita pensar um pouco mais. Ou talvez não.
#JornalistaFabianoDiniz



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